Gordurinhas indesejaveis. A culpa
é dos meus pais?
Mais uma vez, um caso inequívoco da
influência epigenética advinda da ingestão alimentar. Cientistas da German
Research Center for Environmental Health utilizaram modelo animal em um
experimento e constataram as repercussões causadas em função do comportamento
alimentar de pais na expressão gênica de seus filhos. Nesse estudo, os pesquisadores
usaram ratos obesos, diabetes mellitus tipo 2 induzidos, devido a uma dieta rica em calorias. Sua prole
foi obtida exclusivamente através de fertilização in vitro de ovócitos isoladas
e esperma, para que as alterações na prole só pudessem ser transmitidas através
dessas células. Nesse caso, o material foi implantado em fêmeas saudáveis, o
que permitiu que os pesquisadores descartassem fatores adicionais, como influências
da mãe durante a gravidez e lactação.
"Os resultados mostraram que
ambos os ovócitos e espermatozóides repassaram informações epigenéticas, que
particularmente na prole feminina levou a obesidade grave", disse o
professor Johannes Beckers, que dirigiu o estudo. Na descendência masculina,
por outro lado, o nível de glicose no sangue foi mais afetado do que nos irmãos
do sexo feminino. Os dados também mostram que - como em seres humanos - a
contribuição materna para a mudança no metabolismo na descendência é maior do
que a contribuição paterna.
Tais achados podem explicar, em
parte, como se dá a rápida disseminação do diabetes em todo o mundo, uma vez
que os prejuízos de uma má alimentação, somada a maus hábitos, pode resultar em
herança epigenética. Como sabemos, tais alterações perduram por cerca de duas
gerações. Assim, se os hábitos são modificados nesse intervalo, há uma grande chance de se reverterem os
efeitos negativos.
Conforme um dos pesquisadores - "Esse
tipo de herança epigenética de um distúrbio metabólico, devido a uma dieta
pouco saudável, pode ser outra das principais causas para o aumento global
dramático na prevalência de diabetes desde os anos 1960". O aumento
observado em doentes diabéticos em todo o mundo quase não pode ser explicada
por mutações no seu próprio material genético, porque o aumento foi muito
rápido. Logo, é possível inferir que a culpa recai sobre a epigenética,
evidenciada pelos estudos nutrigenômicos. Assim, como foi dito, a herança epigenética -
em oposição a herança genética - é, em teoria, reversível, novas possibilidades
de controlar o desenvolvimento da obesidade e do diabetes surgem a partir
destas observações, de acordo com os cientistas.
Mas o que isso quer dizer em
termos práticos? Ora, todo estudante de nível médio já deve ter tido contato
com as teorias de Charles Darwin e George Lamarck acerca da evolução. Darwin
dizia que “girafas com pescoço maior têm uma ligeira vantagem sobre as de
pescoço menor e, portanto, sobrevivem” – isso que faz com que elas repassem
aqueles genes que caracterizam pescoço longo para seus descendentes e, assim, a
vantagem permanece: pura alusão da chamada “seleção natural”. Já Lamarck nos
dizia que as girafas, ao tentarem alcançar a copa das arvores mais altas,
passavam para sua prole a informação de que “tinham” que nascerem com pescoços
maiores e assim, garantir sua sobrevivência. Durante muito tempo, até o advento
da teoria neo-darwinista da evolução, as idéias de Lamarck foram completamente
rejeitadas, ou seja, não havia como aceitar que o meio pudesse produzir
alterações tão fulgazes em uma espécie. Contudo, os estudos em epigenética hoje
nos possibilitam dar uma pitada “lamarckiana” nas idéias de Darwin, assumindo
que há uma influência significativa advinda do meio e que pode ser
transmitida para os descendentes,
resultando em alterações não perenes, mas que infuenciam a expressão gênica dos
seres vivos.
Assim, antes de culpar seus pais –
caso eles tenham comportamento alimentar nada exemplar - pela incômoda
e persistente barriguinha, lembre que pode haver, de fato, uma herança
de cunho epigenético, mas que não se apresenta como uma condição irreversível. È
possível reverter esse quadro desanimador, desde que você passe a adotar uma
boa alimentação e passe a praticar uma boa atividade física.
Referência:
HUYPENS, P.; SASS, S.; WU, M.; DYCKHOFF, M., TSCHÖP, M.; THEIS, F.; MARSCHALL, S.; ANGELIS, M. H.; BECKERS,
J.;. Epigenetic germline inheritance of
diet-induced obesity and insulin resistance. Nature Genetics, 2016; DOI: 10.1038/ng.
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